“Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade” (Pedro Passos Coelho, in Público, 11/05/2012)
No quadro da sociedade do trabalho não há “livre escolha” senão dentro da “jaula de ferro” da valorização do capital, que se mantém como pressuposto a priori de toda a reprodução social. Por isso mesmo, Passos Coelho acrescenta que a "livre escolha" consiste afinal em escolher entre o mau e o pior: “no meio da crise em que estamos, claro que é preferível ter trabalho, mesmo precário, do que não ter, claro que é preferível trabalhar mais do que não trabalhar, vender mais barato do que não vender”, mas “o modelo para o futuro tem de ser o de acrescentar valor”.
Entretanto, a indignação moralista da esquerda em torno da inverdade da afirmação de Passos Coelho silenciou a possibilidade de um desvio radical promissor: a crise de desemprego estrutural como "oportunidade para mudar de vida" e de irmos verdadeiramente para lá da sociedade do trabalho.
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