sábado, 9 de junho de 2012

# 101











Como resultado de um “trabalho revolucionário”, o bairro da Mouraria em Lisboa é este fim-de-semana uma “aldeia de Potemkin”. Grigory Potemkin foi um ministro Russo da segunda metade do século XVIII, líder da campanha militar da Crimeia, que, segundo a lenda, mandou erguer aí diversas aldeias falsas através da construção de fachadas de edifícios ocos, a propósito da visita da Imperatriz Catarina II e restantes ministros em 1787, de modo a iludi-los quanto à riqueza das suas conquistas. Com esse estratagema, cuja veracidade ou dimensão é ainda hoje sujeita a debate, Potemkin inaugurou a lista dos políticos pantomineiros modernos e estabeleceu um expediente daí em diante comum na sociedade do espectáculo.

Após um ano de “trabalhos” de reabilitação urbana de substância mais ou menos discutível a que os Potemkins de serviço chamam de “enorme revolução”, o bairro da Mouraria foi na última semana palco de uma expedita, gigantesca e madrugadora operação de maquilhagem urbana. Assim, vários edifícios em ruínas ou em risco de derrocada foram pintados de fresco, limpos todos os grafites e pintadas todas as portadas, enquanto nos edifícios abandonados e emparedados, alguns deles de propriedade pública, foram disfarçadas as paredes de tijolos que há anos preenchem os vãos; tudo isto visando preparar a visita do presidente da república e sua comitiva este fim-de-semana, que aí se desloca para ser visto na televisão. Mas, ao contrário do evento organizado por Potemkin, tudo isto é também um cenário de amplo conhecimento público; o que faz do espectáculo de hoje uma farsa com papéis para todos.

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